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RTs para Armando Nogueira

Com um dia de atraso, é verdade, mas cá estou para falar da morte de um grande jornalista do nosso país: Armando Nogueira. Confesso que não tinha conhecimentos profundos dos feitos deste cara. O conhecia, claro. Mas, desde ontem, ao ler homenagens e reportagens sobre ele, me apaixonei por sua escrita e seu amor ao futebol.

Tendo em vista que não posso deixar a data e a memória de Nogueira passar em branco aqui no blog - sendo que o tema deste é futebol e quem vos escreve é jornalista - , apresento-lhes dois posts de outros grandes jornalistas, ao meu ver, David Coimbra e Juca Kfuri.



Aprenda com um dos mestres de David Coimbra

Morreu Armando Nogueira, um dos estetas do texto do jornalismo brasileiro. Não do tal “jornalismo esportivo”, que isso não existe. O jornalismo não pode ser esquartejado como se fosse um boi de açougue: o coxão de dentro do jornalismo, a alcatra do jornalismo, o filé. Jornalista é jornalista em todas as áreas. Armando Nogueira era um desses espécimes. Comandou o Jornal Nacional, e o fazia da economia a variedades.
Mas, é verdade, gostava mais de esporte. Quando escrevia sobre esporte, se soltava. Escrevia como um passarinho. Para homenageá-lo vou fazer com que ele próprio se homenageie. Tenho cá uma Revista Senhor de 1960 em que Armando Nogueira escreveu um perfil daquele que se tornaria um de seus personagens favoritos: Pelé. Vou reproduzir o trecho inicial da matéria de Armando para que você beba um pouco de sua arte, para que você, estudante de jornalismo, candidato a beletrista ou escrevinhador de e-mails, aprenda com quem sabia fazer:
“Tem 20 anos, entende de fotografia, chuta com os dois pés, namora (escondido da imprensa) uma garota de Santos, tem voz de barítono, pele negra acetinada, é sonso na área, enquanto a bola não vem, ganha cerca de 300 mil cruzeiros por mês, gasta 30 e manda o resto para a família, em Bauru. Nasceu em Três Corações, Minas Gerais, e tem tais afinidades com o futebol que certamente nasceria bola, se não tivesse nascido gente”.



Mestre Armando de Juca Kfuri

Amanhã você lerá nos jornais quase todas as façanhas de Armando Nogueira.
Resumidamente, é claro, porque daria para fazer uma edição inteira só com elas.
Mas nunca mais você terá o privilégio de poder abrir um jornal e ler que “Ademir da Guia tem nome, sobrenome e futebol de craque”.
Ou que “Deus castiga quem o craque fustiga”.
Ou que ” Se Pelé não tivesse nascido gente teria nascido bola”.
Nunca mais.
Mestre Armando dizia também que “o bom jogador vê a jogada, o craque antevê”, e ele, como craque que era, antevia não só a jogada, como a notícia.
Se há apenas uma palavra da língua portuguesa para defini-lo esta é, sem dúvida, delicadeza.
Língua cultivada e cultuada por este apaixonado pelo Botafogo, pelo Acre e por voar de ultraleve, coisa para qual se dedicou até a semana anterior da descoberta, três anos atrás, da doença que o levou.
Uma excelência entrou no Paraíso.

RT da Marhta Medeiros

Como aqui também há espaço para papo de guria, estou retwittando a crônica da Martha Medeiros que saiu hoje em Zero Hora, mas que foi publicada originalmente em 2001.


Futebolzinho


Você já pensou em quantas mulheres dariam tudo para que o marido jogasse um futebolzinho de vez em quando?

Vocês se veem todos os dias. Conversam sobre todos os assuntos. Almoçam ou jantam juntos diariamente. Transam com alguma assiduidade. Viajam juntos. Vão ao cinema juntos. Dormem juntos. Passam todos os Natais juntos. As férias juntos. Pelo amor de Deus, como é que você tem coragem de reclamar do futebolzinho dele?

Todo mundo precisa respirar dentro de um casamento. Você, que vive se queixando do futebolzinho dos sábados, ou do futebolzinho das quintas, ou seja lá em que dia o seu marido jogue um futebolzinho com os amigos, deveria se ajoelhar e agradecer por ele ter um hobby e não compartilhá-lo com você. Ele precisa ver outras pessoas, se desintoxicar do ambiente familiar, suar a camisa, perder a barriguinha, tomar um chopinho. Você não pode privá-lo de uma coisa tão inocente.

Você já pensou em quantas mulheres dariam tudo para que o marido delas jogasse um futebolzinho de vez em quando? Tem marido que fica em casa o dia inteiro, tem marido aposentado, tem marido que só faz dormir, tem marido que não sai da frente da televisão, tem marido sem amigo: bendita seja você que tem um marido que joga um futebolzinho.

Tem marido que viaja a trabalho toda semana, marido que vive jogando pôquer às ganhas (e sempre perde), marido que desaparece de casa e só volta três dias depois, marido que cheira, fuma e bebe todos os dias, marido que aposta até a sogra nos cavalos, marido que é violento, marido que é retardado: louvado seja o marido que só quer jogar seu futebolzinho em paz.

O futebolzinho permite que você enxergue as pernas do seu marido no inverno. O futebolzinho faz com que ele externe sua virilidade, sua fúria, sua raiva contra aquele juiz filho da mãe. O futebolzinho resgata o homem primitivo que ele tem dentro dele. O futebolzinho ajuda-o a descarregar a tensão, dá a ele uns hematomas para se orgulhar. O futebolzinho é sua religião, e você quer acabar com isso só porque ele não tem prestado atenção em você? Vá procurar suas amigas e tomar um vinhozinho, bater um papinho, pegar um cineminha. Vá descolar seu próprio futebolzinho.

Eu achei que estava fora de moda o grude nas relações, que isso era coisa do passado, mas recebi um e-mail comovente de um homem apaixonado pela esposa que tenta, deseperadamente, preservar seu futebolzinho, que ela, por seu lado, tenta a todo custo exterminar. Fiquem espertas, garotas. O futebolzinho, o vinhozinho e tudo o mais que homens e mulheres fazem separados um do outro é o que os mantêm juntos.

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